sábado, 23 de maio de 2009

Sexta à noite.

Sentada no chão, atacava vorazmente quatro pacotes de club-social que representavam não só meu jantar, mas a realidade de um orçamento apertado. Tão apertado que a minha amiga teve que inteirar o pagamento pela Coca-cola. E olha que eu sempre tive como sustentar meus vícios.
Enquanto conversávamos, relembrando o passado de cada uma, surgiu o assunto ‘primeiro beijo’.
Contei a minha história.

- Meu Deus, você teve a história mais clichê de todas!
Primo, verdade ou conseqüência, 14 anos. Clichê, clichê, clichê.

E eu fiquei pensando...

Mais nova, meu lado racional dizia que eu era diferente das outras pessoas.
Mas o que fazer quando outra parte de você, mais forte, mais irracional e inconsciente te leva a ser exatamente igual aos outros?

Todos nós, seres humanos, nos sentimos tão deslocados neste mundo, que tentamos nos fazer encaixar em grupos e ser aceito por alguéns.
E eu sei que essa declaração é clichêzaça.
Mas é uma verdade doida e doída.

Enquanto você não consegue se aceitar internamente, recorre à aceitação exterior.
E você sabe que não é papinho de auto-ajuda, mas a mais pura ver-da-de.

Eu estava pensando sobre o meu papel nesse planeta e me deparei com alguns livros de um cara chamado Erich Fromm. Eu já estava chegando lá e ele me deu um empurrãozinho...

Vou transcrever aqui uma citação de Master Eckhart, que o Fromm colocou na introdução de um capítulo sobre a Natureza e Caráter do Homem:

"Ser eu um homem,
isso compartilho com outros homens.
Ser eu capaz de ver e ouvir,
é o que também fazem todos os animais.
Mas eu ser eu é apenas meu,
isso pertence a mim
e a mais ninguém;
a nenhum outro homem
nem a anjo nem a Deus -
exceto na medida em que
sou idêntico a Ele."

Eu, só mais uma que teve seu primeiro beijo com o primo no verdade ou conseqüência.
Que no fundo queria mesmo ser igual, porque se sentia diferente.








Pode ser clichê, mas o filme é meu.

Um comentário:

D. disse...

"Mas eu ser eu é apenas meu". Vou pensar nisso.
Ah, quanto ao clichê: quase sempre é a melhor opção. Porque foda mesmo é notar que o incomum não te torna nem um pouco diferente.