tenho refletido sobre meu corpo e minha alma e descobri do que eles são feitos.
água.
sou água. reflexo. adaptação. poder. emoção. fragilidade.
e nesse mundo perturbado quanto mais interajo com as pessoas descubro que sou um pedaço de cada uma delas. eu posso ser todas elas. se eu posso ser todos, quem eu realmente sou?
a minha necessidade de isolamento vem exatamente da minha conexão sem fim com todo o universo. é extremamente agoniante. eu sou todo mundo e por isso mesmo sou ninguém.
me tranco entre quatro paredes e grito e canto e leio. leio que ''quem sente não é quem é. atento ao que sou e vejo, torno-me eles e não eu. cada sonho ou desejo é do que nasce e não meu''. e choro! e falo 'Fernando, obrigada!". Fernando muito Pessoa. quem melhor do que você, meu português lindo, pra definir o indefinível.
aqui estou segura. sozinha eu sei quem sou. mas é falar e tocar em qualquer ser humano e consigo absorver os seus anseios, suas idéias, suas palavras e as vezes não consigo separar o que é meu do que é do outro. e fico confusa. meu coração encolhe. "Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros). Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho. Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas. Uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas. Como o panteísta se sente árvore e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço". (Pessoa)
e assim, eu me permito sair pra ver o mundo vez ou outra e a experiência é sempre incrível e esgotante. como se eu me derramasse em todos e voltasse pra casa vazia. e não há liberdade maior do que sair por aí vazia. que é quando os outros derramam-se em você. e aí eu volto transbordando o que roubei sem intenção.
de todo jeito quero ser o mar, mas sou somente uma gota.
e na água onde centro todas as minhas emoções,
all the world can pass me by
Até logo…
Há 2 anos