Sentada no chão, atacava vorazmente quatro pacotes de club-social que representavam não só meu jantar, mas a realidade de um orçamento apertado. Tão apertado que a minha amiga teve que inteirar o pagamento pela Coca-cola. E olha que eu sempre tive como sustentar meus vícios.
Enquanto conversávamos, relembrando o passado de cada uma, surgiu o assunto ‘primeiro beijo’.
Contei a minha história.
- Meu Deus, você teve a história mais clichê de todas!
Primo, verdade ou conseqüência, 14 anos. Clichê, clichê, clichê.
E eu fiquei pensando...
Mais nova, meu lado racional dizia que eu era diferente das outras pessoas.
Mas o que fazer quando outra parte de você, mais forte, mais irracional e inconsciente te leva a ser exatamente igual aos outros?
Todos nós, seres humanos, nos sentimos tão deslocados neste mundo, que tentamos nos fazer encaixar em grupos e ser aceito por alguéns.
E eu sei que essa declaração é clichêzaça.
Mas é uma verdade doida e doída.
Enquanto você não consegue se aceitar internamente, recorre à aceitação exterior.
E você sabe que não é papinho de auto-ajuda, mas a mais pura ver-da-de.
Eu estava pensando sobre o meu papel nesse planeta e me deparei com alguns livros de um cara chamado Erich Fromm. Eu já estava chegando lá e ele me deu um empurrãozinho...
Vou transcrever aqui uma citação de Master Eckhart, que o Fromm colocou na introdução de um capítulo sobre a Natureza e Caráter do Homem:
"Ser eu um homem,
isso compartilho com outros homens.
Ser eu capaz de ver e ouvir,
é o que também fazem todos os animais.
Mas eu ser eu é apenas meu,
isso pertence a mim
e a mais ninguém;
a nenhum outro homem
nem a anjo nem a Deus -
exceto na medida em que
sou idêntico a Ele."
Eu, só mais uma que teve seu primeiro beijo com o primo no verdade ou conseqüência.
Que no fundo queria mesmo ser igual, porque se sentia diferente.
Pode ser clichê, mas o filme é meu.