sábado, 24 de novembro de 2012

in the water where I center my emotion

tenho refletido sobre meu corpo e minha alma e descobri do que eles são feitos.
água.

sou água. reflexo. adaptação. poder. emoção. fragilidade.

e nesse mundo perturbado quanto mais interajo com as pessoas descubro que sou um pedaço de cada uma delas. eu posso ser todas elas. se eu posso ser todos, quem eu realmente sou?

a minha necessidade de isolamento vem exatamente da minha conexão sem fim com todo o universo. é extremamente agoniante. eu sou todo mundo e por isso mesmo sou ninguém.

me tranco entre quatro paredes e grito e canto e leio. leio que ''quem sente não é quem é. atento ao que sou e vejo, torno-me eles e não eu. cada sonho ou desejo é do que nasce e não meu''. e choro! e falo 'Fernando, obrigada!". Fernando muito Pessoa. quem melhor do que você, meu português lindo, pra definir o indefinível.

aqui estou segura. sozinha eu sei quem sou. mas é falar e tocar em qualquer ser humano e consigo absorver os seus anseios, suas idéias, suas palavras e as vezes não consigo separar o que é meu do que é do outro. e fico confusa. meu coração encolhe. "Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros). Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho. Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas. Uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas. Como o panteísta se sente árvore e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço". (Pessoa)

e assim, eu me permito sair pra ver o mundo vez ou outra e a experiência é sempre incrível e esgotante. como se eu me derramasse em todos e voltasse pra casa vazia. e não há liberdade maior do que sair por aí vazia. que é quando os outros derramam-se em você. e aí eu volto transbordando o que roubei sem intenção.

de todo jeito quero ser o mar, mas sou somente uma gota.

e na água onde centro todas as minhas emoções,
all the world can pass me by



sábado, 17 de novembro de 2012

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"eu tiro meu livro da bolsa, inflamada de orgulho e de vergonha. queria que todo mundo soubesse a preciosidade ali nas minhas mãos, crônicas de clarice lispector, essa mulher, queria que as pessoas soubessem que estou ali abismada com a metafísica de um ovomaltine, meu deus, alguém percebeu o paradoxo do ovomaltine. queria que o mundo soubesse que estou ali usando meu cérebro e que não é fácil. mas mais do que isso, quero que todo o vagão saiba de quem lê clarice lispector: eu.

mas estou apenas com um livro de capa verde-água na mão, numa fonte horrorosa e uma ilustração ainda pior, e toda a gente ali deve achar que se trata de auto-ajuda.

desembarco e a vida é isso."

Esse é um texto do blog http://vodcabarata.blogspot.com/, intitulado "o maior ego do mundo".


o maior ego do mundo ainda é o meu!
(risos)



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

You're just a human, a victim of the insane

Aos poucos a grande neblina que envolve meu cérebro vai se dissipando e consigo vislumbrar flashes de realidade. A rotina sempre chega de mansinho pronta pra nos devorar.
A novidade sempre envelhece, you know.
Assim como todo o resto. e é isso que nos mantém aqui; saber que um dia não vamos mais estar.
Mas tudo ainda está muito quente, acabado de sair do forno. Por isso ando queimando minha língua com frequência. Não quero falar do que eu não entendo.
Me sinto presa dentro de um filme brasileiro em cartaz num cinema português. Aqui eles interrompem o filme exatamente na metade e fazem dez minutos de intervalo. Estou na parte em que a personagem principal é apresentada ao espectador e ambos não fazem a menor idéia do que os aguardam.
Pois é. Aqui estou eu, à espera do conflito. Existem milhares de possibilidades, por isso ando curiosa pra saber qual delas irá se desenvolver.

Enquanto isso, o alvoroço existencial do momento envolve sexo, drogas, roquenrou e velhice.
falta toque, falta cerveja com amigos, falta língua na língua, falta companhia fodástica pra compartilhar momentos fantásticos, falta barba, falta desejo, falta mão, falta pegada, falta presença.
me dê um minutinho desse intervalo que deve durar pelo menos um dia na vida. Um dia na vida com você equivale a um século na companhia dos que não interessam e vamos ser sinceros... nesse mundo minusculamente enorme os que não interessam são esmagadora maioria.

"The world is just a little town
Everybody trying to put us down
Isolation"

Mas sempre nos falta algo porque estamos constantemente cavando buracos psicológicos que acabam perfurando nossa alma. Eu sou esse buraco negro que suga tudo o que está à volta, sou esse vazio existencial que tenta se preencher através da realização de outras pessoas, sou essa vagina e toda sua simbologia, a eterna passividade, receptividade, a defesa e não o ataque, o abraço e não o soco, a que é penetrada, a fêmea, a mãe, a mulher.

Acima de tudo sou a lua e todas as suas crateras.
(e nenhuma bandeira jamais será fincada aqui)