segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A garrafa de gatorade

Tudo o que restou foi uma garrafa de gatorade.
Foram meses de idealização, muitos meses, meses que viraram um ano.
Meses de descobertas interiores absurdas, meses de inspirações coloridas.
Foram os melhores meses que alguém poderia ter.
Agora, tudo o que resta é uma garrafa de gatorade escondida dentro do armário.
E em uma segunda-feira, o dia que simboliza a própria realidade, eu resolvi acabar com essa garrafa.
Mas não consegui.
O gosto amargo do conteúdo vai ficar pra sempre em mim, tenho certeza.
A amargura do fim.
Do fim do líquido, das minhas aspirações, inspirações e idealizações.
Ele disse que o líquido falava a verdade e colocou um pouco numa garrafa velha de gatorade (que eu sei que ele toma quando está de ressaca). Tinha umas 3 garrafas vazias espalhadas. Mas ele pegou uma e disse:
“Já que você não me vê mais como verdade, finalmente, tome isso e descubra a sua. Descubra que você é de verdade.”
O que eu bebi foram 3 tampinhas de um líquido forte.
Já passaram duas horas e só estou com dor de cabeça mesmo.
Drogas não funcionam comigo.
Minhas expectativas em torno delas são grandes e elas sempre me decepcionam.


Mas ele prometeu a verdade.
E pelo visto três tampinhas não são suficientes.
A verdade tem um preço alto.
Pelo visto, o conteúdo inteiro da garrafa.
Pelo visto, todas as minhas idealizações, inspirações e aspirações.
A verdade quer que eu me desfaça da garrafa de gatorade e de todas as bullshits que ela simboliza.
E eu não preciso tomar nada pra saber disso.

domingo, 22 de agosto de 2010

be prepared to be surprised

Você está quase vencendo.
E saber disso me dá agonia porque significa que eu estou perdendo.
Ultimamente tenho vivido a angústia dos dias reais, tediosos, medíocres.
Tentei sempre relacionar você com a minha realidade, te jogar
na segurança do racional.
Porque a realidade pra mim é racional, tediosa e medíocre.
Então enquanto eu estava ocupada demais vivendo entre a inspiração e a depressão, você entrou de mansinho com seu sorriso e eu deixei você ficar porque é bom ter um sorriso bonito pra me distrair nos dias em que eu canso de mim.
Mas você abusou da minha boa vontade.
Você e esse seu sorriso.
Então comecei a inventar desculpas.
Desculpas são como saídas de emergência.
Qualquer bobagem desde 'você não me liga' até 'quero transar com esse outro cara que não está nem aí pra mim pra ter uma desculpa palpável sobre o fato de que eu não te mereço'.
Mesmo sabendo que eu mereço.
Tudo isso porque você me dá muita raiva.
Igual àquela música do Velvet Underground:

"Sometimes I feel so happy
Sometimes I feel so sad
Sometimes I feel so happy
But mostly you just make me mad
Baby you just make me mad"

Tenho muita raiva de tudo o que você faz, de quem você é.
Tenho raiva porque odeio perder, a verdade é essa.
A verdade é que seu sorriso está vencendo e eu estou me perdendo.

Nele.

domingo, 15 de agosto de 2010

bunch of lonesome heroes

Todos os meus sentimentos foram sugados.
Se alguém vir minha inspiração por aí, diga que sinto sua falta.
Estou ligada no piloto automático.
Ando na rua e não sinto meus pés.
Falo com as pessoas e não sinto timidez/afeição/ aversão.
Só preguiça. Uma preguiça tão gigantesca de existir que não deixa espaço nem para oxigênio. Deve ser por isso que ando sem vontade de respirar. Preguiça.
Gosto de pensar em hibernação não-opcional. Minha mente tá em greve e meu corpo fez questão de me colocar na cama. “Ô, deita aí que a coisa tá preta pro nosso lado”.
Durmo aquele sono sem sonhos. Não sinto nem saudade e nem a realidade.
Não quero ser diferente ou igual. Até porque sou apenas um animal que se deu conta de quem é. Que sente o que não quer. Que conseguiu ficar em pé.
Eu não tenho coragem de mudar nem a cama do lugar, imagina minha vida. Espetacular.
De verdade? Estou com preguiça de ser corajosa, de ser forte.
Hoje você não vai conseguir tirar nada de mim.
Estou sem troco. Sem troca. Tá tudo oco. Sem coca.
Não estou conseguindo me levar a sério.
Não estou conseguindo me levar a lugar algum.

Não quero nada de ninguém. Mas um abraço espontâneo ou um elogio ainda conseguem me arrancar um sorriso. Infelizmente o sorriso automático de alguém que não sabe abraçar a profundidade dos momentos. Enquanto isso, alimento minha superficialidade como algum vilão psicopata alimenta sua cobra de estimação.
Quero que as pessoas não tenham preguiça de olhar através de mim.
Quero que elas descubram todas as minhas bullshits! Só assim para parar de me enganar. Quando acabarem as pessoas do mundo que gostam de ser enganadas. Esta é a maioria. E a maioria sou eu.

E eu... só quero tê-lo em mim.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

like a bird on the wire

Like a baby, stillborn,
like a beast with his horn
I have torn everyone who reached out for me.
But I swear by this song
and by all that I have done wrong
I will make it all up to thee.
I saw a beggar leaning on his wooden crutch,
he said to me, "You must not ask for so much."
And a pretty woman leaning in her darkened door,
she cried to me, "Hey, why not ask for more"

Oh like a bird on the wire,
like a drunk in a midnight choir
I have tried in my way to be free



Leonard Cohen did it for me.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

abraçando a memória.

Lá pro meu sexto dia absolutamente sozinha em casa, liguei a TV na hora de um programa chamado 'Spectacle: Elvis Costello with...'. Estavam lá alguns seres desconhecidos por mim. Todos com um violão em mãos numa fileira horizontal. Eles eram compositores famosos. Tinha um velhinho no canto e uma moça bonita de cabelos vermelhos do seu lado esquerdo. O velhinho quase não se mexia.
Chegou a vez da moça cantar. E ela resolveu interpretar uma música do Harry Nilsson.
essa aqui.

In the wintertime keep your feet warm
But keep your clothes on and don't forget me
Keep your memories
But keep your powder dry too

Don't forget me, don't forget me
Make it easy on me just for a little while
You know I think about you
Let me know you think about me too

And when we're older and full of cancer
It doesn't matter now, come on get happy
'Cause nothing lasts forever
But I will always love you

Quando tudo o que você tem são memórias de momentos que significaram o mundo pra você. Memórias de situações vividas com outra pessoa. E essa pessoa não dá o mesmo grau de importância que você dá para aquelas situações porque, é claro, vocês são diferentes.
Mas você é surpreendida por:

- ...
- Porque você tá rindo?
- Tô lembrando de quando a gente se conheceu.
- ...
- Foi massa.

É, foi massa. Ele era outra pessoa e eu também. Um ano e meio faz tanta diferença na vida e a gente só percebe quando esbarra na memória do nosso velho-eu.
Os caminhos se abrem.

Eu não quero que ele esqueça. Nos esbarramos num cruzamento. Ele não vai lembrar sempre, mas vai lembrar sempre que me ver.

Todos os meus sentimentos mais importantes ficam guardados e trancados num pequeno armário. Ele tem a chave e considero isso cruel. Porque ele não sabe disso e pior, não o interessa saber.

Enquanto isso eu ouço a música e meu coração se contrai, quase suplicando:
Don't forget me. Don't forget me. Make it easy on me just for a little while. You know I think about you. Let me know you think about me too.

Aí o velhinho, por quem eu não dava nada, começa a tocar uma música linda.
Eu e a moça de cabelo vermelho começamos a chorar.

Cause nothing lasts forever
But I will always love you

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Pausa, respira e toma o chá.

Ele é escroto, se acha, é lindo e tem talento saindo pelos poros. Literalmente.
Porque parece que ele me infecciona. Descobri. Chamei o tempo todo de inspiração. Mas é infecção.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

observando janelas

hoje vou ter que arrumar a bagunça.
varrer o chão, limpar ferida, tirar mancha do colchão, passar lustra-móvel.
como eu faço pra limpar dentro? tá tudo embaralhado.
a realidade ou a minha imaginação? pela primeira vez terei que fazer uma escolha concreta. Não quero! I don't wanna grow up.
eu vivo falando aqui sobre inspiração.
Ela voltou. Mas dessa vez chegou diferente.
Meu coração tá tão inho. Tenho a impressão de que não passa de hoje, está prestes a desaparecer.

Não quero escolher.

Posso estar fazendo tempestade em copo d'água, mas perto dele eu sempre transbordo.
E ele está tão perto!

De um lado tem essa outra inspiração que me ajuda a ser exatamente quem sou.
E por outro tem a que me impulsiona para além de mim.
É JUSTO ESCOLHER?

Quero que a inspiração me coma.

Mas neste momento só quero entrar em coma mesmo.